segunda-feira, 26 de março de 2012

RECUPERAR A BAIXA SEM SABER O QUE SE QUER (1)

 



 Segundo o Diário as Beiras de hoje, em título na página 5, “Praça Velha recebe festa académica”.  Em continuação da notícia, “No próximo dia 29 de março, a Praça Velha (Praça do Comércio) acolhe a Festa dos Polos 1, II e III da Universidade de Coimbra. A proposta vai hoje à reunião do executivo e prevê que nessa noite a praça central da Baixa da cidade seja invadida de milhares de alunos do ensino superior. No palco, junto à Igreja de São Tiago, será colocado um palco por onde passarão durante toda a noite dj’s e tunas académicas. Esta iniciativa conta com o apoio da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra e é vista “como muito importante para a dinamização desta zona, chamando novos públicos a estarem presentes e a vivificarem o centro histórico”.

 Vamos por partes, no ano passado, mais precisamente na noite de 28 Setembro, realizou-se nesta mesma praça a “Noite dos Horários” e promovida pelo Núcleo dos Estudantes de Economia da Associação Académica de Coimbra.  Pretensamente licenciado até às 04h00, o evento, segundo moradores que ouvi na altura, manteve-se até às 05h00 com um barulho infernal e, por isso mesmo, motivou uma onda de grande indignação, incluindo alguns hoteleiros, que não viram com bons olhos este tipo de concorrência que só interessa aos promotores.
Ora, tendo em conta que os protestos de quem aqui mora teriam chegado à autarquia, pergunta-se como é possível que este ano, para além de manter a alegoria, ainda a prolongam toda a noite –isto se o projecto for aprovado na reunião de hoje do executivo municipal.

O QUE QUER A CÂMARA FAZER DA BAIXA?

 Perante esta inopinada atitude da edilidade –volto a repetir que vai à discussão hoje-, se for dado provimento, indica claramente que o executivo camarário não tem um plano de pormenor para esta zona velha e não sabe o que fazer dela.
É de ver que qualquer evento que se realize aqui nunca poderá exceder as 02h00. É preciso não esquecer que os direitos dos moradores, em paridade, devem merecer o mesmo peso de qualquer promotor, seja ele uma associação de estudantes, seja a Universidade, seja outro qualquer – a menos que o executivo queira fazer da Baixa uma terra de barulhos infernais e sem ninguém a morar aqui. É isso que quer? Então faça o favor de licenciar. No futuro, se continuar a assobiar para o lado, é de prever, nem haverá comerciantes, nem hoteleiros, nem residentes. Haverá apenas um território inóspito, desertificado, onde prevalecerão os toxicodependentes, com prédios e lojas vazias.

AS FRASES FEITAS DO COSTUME

 Quem anda por aqui há muitos anos, facilmente vê que por detrás destes eventos destruidores de uma necessária e sã harmonia entre moradores e empresários estão lóbis de interesse. Não vou referi-los porque são facilmente adivinháveis no contexto. O que estes grupos pretendem é somente o lucro e nada mais. Estão a marimbar-se para o que se passa aqui. A verdadeira vivência da Baixa nunca lhes interessou. Curiosamente, como sempre, empregam o tal chavão estafado de “revivificar a Baixa”. Por amor de Deus inventem outra frase. Esta está gasta e já não cola.
O executivo tem obrigação de não ceder, de uma forma infantil, a estes lóbis, foi para isso que foram eleitos. A edilidade tem de ver mais longe do que simplesmente está à frente. Acima de tudo, se não sabe, antes de decidir, fale com comerciantes e residentes. Não arruíne o capital de esperança que ainda nos move a todos.

TAMBÉM TU, APBC?

 No ano passado, numa boa atitude preventiva, antevendo problemas com os moradores, a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, não se envolveu no projecto. Este ano, numa decisão que só se entende à luz de uma certa pressão e conluio com os interessados, esta agência vem a apoiar esta festa de álcool. Triste decisão, digo eu, que só pode ser entendida no sentido de que também esta associação anda à deriva e não sabe o que fazer.




AS DECLARAÇÕES SEGUINTES, MAIS ABAIXO, FORAM CONSEGUIDAS E ESCRITAS POSTERIORMENTE A ESTE TEXTO. 




E O QUE DIZ, SOBRE ISTO, ARMINDO GASPAR?


 Ao meu pedido de comentário, Armindo Gaspar, presidente da APBC, respondeu o seguinte:
“A BE COIMBRA, enquanto associado da APBC, pediu-nos para solicitarmos junto da autarquia o pedido de licenciamento com isenção de taxas –saliento que este procedimento é extensível a todos os associados da agência. Ou seja, qualquer um nosso representado que pretenda um licenciamento junto da edilidade, nós, enquanto parceiros no pacto social da APBC, encaminhamos o processo e pedimos a isenção de taxas para a ocupação de espaço público.
Perante a solicitação da BE Coimbra, a direcção da APBC, a que presido, disse que submetia à Câmara o pedido de licenciamento, mas não o apoiava directamente. A única coisa que fizemos foi canalizar para a autarquia um pedido de um nosso associado.
A interpretação do acto declarativo feito pelo Diário as Beiras é da inteira responsabilidade do jornal.



E O QUE DIZ O BE COIMBRA

 Segundo Miguel Matias, mentor e representante da empresa BE Coimbra, “não consigo entender esta polémica. O que pedimos à Câmara, através da APBC, foi um licenciamento até às 02h00 da manhã, o que, no nosso entender, é uma hora aceitável para limitar o barulho e o natural respeito que todos os moradores nos merecem –até porque nós, enquanto detentores de um “Hostel” na Praça do Comércio, somos os mais interessados em manter uma certa harmonia e um respeitável silêncio para que os nossos hóspedes, estudantes, possam descansar.
Não percebo como é que o Diário as Beiras lança esta notícia sem nos ouvir, ou essencialmente, no mínimo, a APBC, uma vez que esta entidade é focada no texto do jornal.”



(TEXTO ENVIADO À CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA)


1 comentário:

Anónimo disse...

Como sabe amigo Luís sou a favor da vinda de estudantes universitários para a baixa.
Mas daí até a selvajaria da ultima vez que assentaram arraias na baixa é outra questão.
Que venham festejar sim mas no máximo às duas da manhã já não existir barulho e tudinho limpo.
Em relação à APBC tenho a dizer unicamente vai ser uma nova ACIC por este andar, ou seja fim à vista.