quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "NA BAIXA RESPIRA-SE NATAL", deixo também as crónicas "O ÚLTIMO SUSPIRO DO SACRIL(ÉGIO)"; "TOMAR O PULSO À RUA"; "REFLEXÃO: PARA ONDE CAMINHAMOS, SENHOR?"; e ainda os textos "O REGRESSO DO ARDINA DA SAUDADE"; e "NOITE BRILHANTE NO MERCADO"


NA BAIXA RESPIRA-SE NATAL

 Com a presença de Barbosa de Melo, Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, foram oficialmente inauguradas as iluminações de Natal. Quase ao mesmo tempo, e por iniciativa da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, chegou o Pai Natal, uma obra escultórica da ARCA, à Praça 8 de Maio, transportado num camião dos Bombeiros Voluntários de Coimbra, e o som melodioso de música natalícia invadiu todas as ruas, becos e ruelas. Saliento que todas estas iniciativas têm um custo zero para os mercadores. Há na Baixa um espírito de Natal à solta. Vive-se por aqui uma ternura que não se sentia há muito tempo.
Naturalmente que haverá sempre quem não esteja de acordo com estas ações. Para uns os enfeites estão muito pobrezinhos; para outros criticam o facto de só as duas ruas principais merecerem serem ornamentadas; para outros, perante a grave crise, estão contra estas manifestações alusivas ao Menino Jesus. No tocante ao som, para uns, a música que está a tocar não tem qualidade, deveriam passar mais canções brasileiras; para outros a toada está muito alta.
Têm razão? Têm e não têm. Antes de explicar esta minha deliberação ambígua, convém esclarecer que há sempre, no mínimo, duas maneiras de ver as coisas: a visão dos que estão próximo e a dos que estão longe. Depois, mesmo nestas duas posições geográficas, a influir na apreciação, conta muito a forma como se está perante o mundo. Se estamos em paz com ele teremos uma avaliação positiva e até desvalorizamos e damos uma margem de dúvida para os promotores. Se estamos mal, se a vida nos desiludiu ou corre mal, tornamo-nos azedos, mal-humorados, pessimistas, e dizemos mal de tudo e todos. Somos todos iguais nesta prospetiva.
Claro que, como em tudo, haverá sempre um meio-termo entre dois polos. Se me pedissem um conceito talvez o designasse por bom senso, bom agradecimento por quem faz alguma coisa por nós. E ao proceder assim, teremos sempre de menosprezar as posições radicais. Mesmo assim, olhando um pouco às críticas, por exemplo, se alguns consideram que o som está alto, é muito fácil de tentar harmonizar os interesses: baixa-se um pouco. Relativamente aos reparos de se ornamentarem apenas as ruas da calçada, a meu ver, estes comentários têm perfeita razão de ser. Não se pode entender que todos os arcos estejam concentrados nas Ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz e a Rua da Sofia não merecesse um único ornamento de atenção. Esta artéria, conjuntamente com as citadas, é uma das mais importantes da Baixa. Basta lembrar a sua monumentalidade e ser candidata a Património Mundial pela Unesco. Para além deste “esquecimento”, lamenta-se também verificar que a autarquia não tivesse previamente contactado a APBC e, juntas, combinarem um plano de acordo, isto sem que houvesse aumento de custos –que, quanto a mim, a Câmara Municipal ao reduzir as verbas, mas sem erradicar, esteve muito bem. Todos os comerciantes lhe devem agradecer, pelo menos se tiverem memória. É bom não esquecer que até 2001 os custos alegóricos à quadra eram a expensas dos lojistas.


O ÚLTIMO SUSPIRO DO SACRIL(ÉGIO)

 Morreu na semana passada o Sacril. Tinha à volta de 50 anos. Como é que se pode morrer tão novo? Interrogarão alguns mais chegados. Para outros, mais que certo, dirão, estava numa altura ótima para deixar este mundo de aflições. Afinal meio século é sempre o meio de qualquer coisa, neste caso metade de 100 anos. Mas quem chega lá, à centúria, salvo exceções, já não vive, arrasta-se, sobrevive. O Sacril morreu desta doença da moda. Dizem que foi a mudança dos costumes que o condenou inexoravelmente. Parece que é um vírus que anda por aí à solta e tão depressa não haverá antídoto. Já há quem lhe chame a peste negra destes tempos. Mas este seu perecimento deixa saudades? Se calhar não. Afinal é mais um que partiu. E que importa isso? É certo que nos primeiros dias vamos notar a sua falta, mas depois habituamo-nos e passa. A vida é uma roda que vai girando devagar para uns e a correr para outros. De vez em quando lá cai um raio da circunferência, mas imediatamente outro tomará o seu lugar e a cidade, que é feita de todos mas ninguém em especial, na sua continuidade assente nestes figurantes, no seu caminhar insensível rumo ao futuro, não se sabendo onde fica nem a quem pertence, prossegue a sua marcha silenciosa sem proferir um lamento de dor.
Só quem convive muito de perto com o falecido sofre. Sofre não. Padece, mingua de amargura. Contava-se por cá, à “boca sussurrada”, aqui e acolá, como manda a lei da ética no bairro, que o Sacril estava nas últimas. Dizia-se que era por isto e por aquilo. Como sou o coscuvilheiro de serviço –gostava de ser cangalheiro, ganhava muito mais, e tinha futuro garantido, mas já há muitos-, há dias e antes do último suspiro, num daqueles gestos afirmativos, vi a Sandra, uma das familiares diretas do Sacril, muito magra e com um espírito de grande angústia pesada a envolver todo o seu frágil corpo de mulher bela de trinta e poucos anos. Comecei por pedir desculpa por me estar a meter na sua vida particular e interroguei se era verdade o Sacril estar muito doente e se corria risco de vida? E a Sandra, já muito debilitada, em manifestação de alguém que vai perder um familiar chegado, sem força anímica, não conseguiu conter as lágrimas, que lhe caíram em turbilhão por aquele rosto lindo, mas muito fragilizado. “É verdade, sim, senhor Luís. É muito duro o que nos está acontecer! Ao morrer o meu estabelecimento Sacril falece uma parte de mim, um pedaço de carne de todos nós, o coração da minha família. Ali está a vida dos meus pais, que, para ver se nos aguentávamos, já há muito que não nos cobravam renda, a mim e à minha irmã. São 50 anos de história que se perdem, que se esvaem como água por entre os dedos, aqui na Rua das Padeiras, como estas lágrimas que escorrem pela minha cara. É muito duro! Não merecíamos isto! É um castigo demasiado grande. Somos quatro pessoas a viver da loja. Não dá para continuar. Deixou de ser rentável, e não é por falta de esforço de todos os que lá trabalhamos. Nunca imaginei uma coisa destas! Nasci ali, senhor Luís. Como é que vou viver sem o Sacril? Ali está a minha alma, todo o meu ser. É tudo para mim! Não sei se vou aguentar. Há uns meses que ando a emagrecer cada vez mais. Já há muito que não consigo dormir. Mesmo com os fármacos que me receitaram não consigo descansar. O que vai ser de mim sem a minha loja, senhor Luís?”


TOMAR O PULSO À RUA

 Vivemos todos presos a estereótipos, a apriorismos, a frases que apanhamos nos outros e as tomamos como verdadeiras, nossas, sem pensar.
A semana passada foi inaugurado o som musical nas ruas da Baixa. Trata-se de uma feliz iniciativa da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, no sentido de tornar as artérias mais alegres, uma vez que, por vários motivos e sobretudo a crise, se encontram tão tristonhas e desertificadas. O que eu não imaginava é que a propagação sonora em todo o quarteirão formado pelo Largo da Portagem, Ferreira Borges, Visconde da Luz, Sofia e demais ruas e becos estreitos, poderia ser fatal para uma atividade: a dos músicos que tocam na via pública. Logo a seguir, e ainda no mesmo dia, o Paolo Vasil, acordeonista romeno, e o Lourenço Pina, tocador de viola e cantante cabo-verdiano, ambos músicos da recente formada “Orquestra de músicos de Rua de Coimbra”, vieram ter comigo muito preocupados e a suplicar: “ó senhor Luís, a música nas colunas está muito alta. Assim não podemos tocar. Como é que vamos ganhar a vida? Se o senhor pudesse falar com quem manda nisto para baixar um bocadinho do volume…”. A seguir o Lourenço disse uma coisa que me colocou em choque: “ó senhor Luís, na segunda-feira eu preciso de ganhar 2,50 euros para ir comer à Cozinha Económica. Assim, com o som tão alto, não posso tocar e também não posso comer…”
Sem entrar em grandes tiradas reflexivas, gostava de chamar a atenção para este caso. Este homem, diariamente, aufere na rua o seu sustento. Mais: bastam-lhe dois euros e meio para aguentar esta vida nesta terra tão desgraçada para tantos e prometida para ele. Era bom que todos pensássemos nisto quando nos lamentamos porque não temos isto e aquilo.
Felizmente, falei com o Armindo Gaspar, presidente da APBC, e, numa compreensão digna de louvar, o som foi baixado para o mínimo. Penso que amanhã já todos os músicos de rua, naquelas artérias, estarão mais felizes com um simples gesto de rodar um botão.
São tantas as vezes que pensamos que estas pessoas ganham fortunas diariamente –e acredito que haverá quem ganhe de facto muito- que até nos esquecemos daqueles que pouco auferem. Talvez valha a pena pensar nisto.




REFLEXÃO: PARA ONDE CAMINHAMOS, SENHOR?

 Na semana passada encerrou o estabelecimento Sacril, uma casa com cerca de 50 anos de existência, na Rua das Padeiras. Quatro pessoas ficaram desempregadas. Três famílias, duas sócias e um funcionário, ficaram seriamente afetadas no seu bem-estar já por si, até aí, depauperante. Até ao fim do ano, durante este mês, pelo que se consta aqui na Baixa, cerca de meia-dúzia de lojas irão encerrar. Todos nós, como participantes num jogo de peças de dominó alinhadas, e que vão caindo uma a uma, assistimos todos a este ir ao chão impávidos e serenos e sem nada se fazer. É como se, pacificamente, aceitássemos este devir como desígnio divino. Por outro lado, passamos a olhar para estas desgraças do nosso vizinho como uma fatalidade normal. Acontece que estamos a assistir a um extermínio comercial que não tem nada de normal. É uma anormalidade em que estão a cair muitas famílias na insolvência, na pobreza e na desgraça. O que é necessário fazer para todos acordarmos que esta situação não pode continuar? Se, porventura, não nos toca o destino do nosso confinante, por momentos e do ponto de vista egoísta, pensemos que o nosso fim também estará próximo.




O REGRESSO DO ARDINA DA SAUDADE

 Há uma semana, neste mesmo dia de sexta-feira, durante a tarde, a título experimental, as ruas da Baixa foram invadidas pelo saudoso grito do ardina: “OLHOOOOÓ… DESPERTAR! É P’RÓ MENINO E P’RÁ MENINA! TRAZ A NOTÍCIA DO MACHADO QUE VAI RACHAR A CÂMARA AO MEIO! … OLHOOOOÓ DESPERTAR!”
Quem assim gritava a plenos pulmões era o Victor Manuel Lucas. E quem é o Victor? Calma, eu vou contar tudo. Faça o favor de não me pressionar. É que em stresse não funciono. Não dou uma “p’ra caixa”. Não sei se me entende. Vou então continuar. Recomeço por dizer que o Victor, para além de ser uma pessoa humilde e a quem o trabalho não mete medo, é um “self made man”. Um homem dos sete ofícios. Foi pintor de construção civil. Neste momento é vendedor nas diversas feiras de velharias da zona centro, é pintor de artes plásticas, autodidata, é restaurador de arte na Lousã, onde reside, e tanta coisa que nem sei. Mas vamos lá contar como é que o Lucas é “arrastado” para uma nova função: a de ardina. Como muitos leitores saberão, o jornal O Despertar é o mais antigo semanário de Coimbra no ativo. Do alto dos seus 95 anos, tal como outros irmãos mais novos na imprensa, vive com dificuldade. Desde o atual proprietário Lino Vinhal, que adquiriu o título à família Fausto Correia com a promessa de não o deixar morrer, até à diretora, Zilda Monteiro, que é uma espécie de “faz tudo”, e passando pelo abnegado esforço do Carlos Dinis, na paginação, todos “dão o litro”. De uma forma altruísta e desinteressada, na vanguarda do jornal está uma vasta equipa que corre por amor à camisola. Como colaboradores escrevem a Alda Belo, a Alda Constança, a Clara Luxo Correia, o Eduardo Proença Mamede, o João Baptista, o Joaquim Belizário Borges, o Joaquim Vieira, o José Andrade, a Lucinda Ferreira, o Manuel Bontempo, a Paula Alexandra Almeida, o Sansão Coelho, o António Piedade e a mais recente aquisição, transferido de um grande jornal nacional e que agora nem recordo o nome, o Luís Fernandes, que por acaso, sou eu. Gostaria de referir também o José Soares, desaparecido do nosso meio dos vivos há pouco tempo, e que durante muitos anos deu o seu melhor para que este semanário continuasse a surgir nas bancas semanalmente.
Continuando, nas calmas, vou agora então contar como é que surgiu esta ideia de voltarmos novamente a ouvir o grito do jornaleiro, e que tanta nostalgia nos transmite, nas ruas da cidade. Aconteceu por acaso. Conversamos todos sobre este assunto e decidiu-se fazer a experiência. Por parte da administração apenas pretende a divulgação deste meio de informação. Não está em causa o custo da edição. Como tal, e sendo assim, o que interessa mesmo é que você adquira e leia O Despertar. Se não puder pagar os 75 cêntimos de capa fale com o Victor, o “novo ardina da saudade”, que, tenho a certeza, ele não deixará de lho entregar. Fale é com ele. Não lhe atire um olhar de distanciamento.
Hoje e no futuro o tempo vai andar para trás na Baixa. Como o ensaio preliminar correu muito bem, ficam os leitores a saber que todas as sextas-feiras o Victor vai encantar-nos com o seu pregão: “OLHOOOÓ DESPERTAR!”. Gostaria só de chamar a atenção de que a permanência deste novo e respeitado ardina passará sempre por si. Dê-lhe um sorriso de consideração e, sobretudo, se puder, adquira-lhe o jornal.


NOITE BRILHANTE NO MERCADO

 Paulo Diniz, o presidente da Associação do Comércio dos Mercados de Coimbra, estava feliz. A primeira “noite branca” realizada no Mercado Municipal D. Pedro V, no último sábado, ultrapassou as expectativas. Sem disfarçar o contentamento foi dizendo: “Foi bom! Muito bom, mesmo! O mercado esteve cheio de gente como já não se via há muito tempo. Os próprios vendedores e meus colegas, na participação, excederam-se e estiveram a comerciar até às 22h30. O pessoal vendeu bem e até por isso, também, foi muito satisfatório.”
Como foi noticiado pel’O Despertar esta iniciativa, que visa captar novos públicos e chamar a atenção para o comércio tradicional, estava programada para ser realizada em simultâneo com uma “noite branca” na Baixa conjuntamente com a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra. Por razões de logística desta agência, uma vez que não estavam reunidas condições de funcionamento, teve de ser cancelada. Segundo Armindo Gaspar, presidente desta agremiação, “desta vez não foi possível fazermos o evento, mas contamos futuramente trabalhar de braço dado com o mercado municipal. A nossa “praça” é uma extensão da Baixa e não nos vemos de outra forma. Infelizmente, por motivos alheios à nossa vontade, foi impossível começarmos já, mas proximamente vai mesmo acontecer”. E o que pensa desta relação bilateral Paulo Diniz? Estas alegorias são para continuar? “Claro que são para continuar. E é evidente que pensamos persistir na comparticipação com a APBC. Foi pena, de facto, não acontecer já hoje, mas cá estamos para trabalharmos juntos no futuro.”
E os vendedores? Como é que viram esta iniciativa brilhante no mercado? Vamos ouvir Clídia Neves: “foi bom. Muito bom! Para compensar até vendemos bem. Veio muita gente; sobretudo jovens que nunca tinham vindo ao mercado. Era bem patente a sua admiração por tudo o que viam; pela nossa simpatia, pela nossa espontaneidade. Aqui respira-se povo, você entende?”
Ao lado a irmã, Irídia Neves, enquanto arruma uns produtos na prateleira, mete também a colher”: “as pessoas viam os preços e ficavam admiradas, por aqui ser tudo mais barato. Ficavam surpreendidas pela nossa naturalidade. Alguns, sobretudo gente nova que nunca tinha vindo cá, disseram que o mercado parecia uma grande família.”
E o que pensa o mercador Luís Carlos Carvalho? “Foi muito bom. Tivemos aqui milhares de pessoas. Repare que hoje era feriado, pois, mesmo assim, as pessoas acorreram em massa. O ponto alto foi aquando da atuação do Orfeon Académico de Coimbra. Estava aqui um mar de gente. Felizmente, para ser ouro sobre azul, vendeu-se bastante. E acima de tudo o convívio que se formou entre vendedores e compradores foi fantástico. Nós aqui somos uma grande família. Sabe? Tire aqui uma fatia de bolo-rei e beba um copinho de jeropiga. Vai?”


O DEZEMBRO DE TODAS AS NOITES BRANCAS


 Nos próximos dias 14 e 21, deste mês de dezembro, respetivamente à sexta-feira, vão realizar-se duas “noites brancas” até às 23h00. Segundo Armindo Gaspar, “em reunião de direção da APBC, entendemos efetuar estas duas iniciativas por ser dezembro, o “mês do comércio”. Como no anterior projeto de realizar a ”noite branca” ao sábado não tivemos adesões suficientes por parte dos comerciantes, desta vez, alteramos para a sexta-feira. Além disso, para não cansar muito, em vez de se ir até à meia-noite, iremos até às 23h00. Naturalmente que convidamos o Mercado Municipal para nos acompanhar nesta iniciativa a favor do comércio tradicional.”











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